Há um bom tempo atrás, me chamou a atenção o título de um livro: “Meu filho, meu discípulo”. Esse título refletia a realidade que o discipulado exige para a formação de uma vida. Cristianismo é discipulado em sua essência, e isso pressupõe a existência de pelo menos duas pessoas, aquele que discipula e o que é discipulado. Até agora temos estudado sobre as condições do ser discípulo, entretanto, a existência de discipuladores é imprescindível para o desenvolvimento da igreja. Desta necessidade surgem algumas perguntas: Quem pode ser discipulador na igreja? Quanto tempo o processo demora? Quais os custos desta tarefa? Mais uma vez é preciso consultar as Escrituras Sagradas, nosso manual de fé e prática. As cartas de Paulo a Timóteo são muito ricas em aspectos do discipulado, é nelas que vamos buscar algumas orientações.
1. Discipular implicar em criar relacionamento
Logo no começo da primeira carta Paulo disse: “escrevo a você, Timóteo, meu verdadeiro filho na fé." (I Tm1.2). Esta frase expressa o estreito relacionamento construído entre um discipulador e o que é discipulado. Na segunda viagem missionária, Paulo havia pregado o evangelho para Timóteo (ou ele viu Paulo ser apedrejado) e, tendo este crido em Cristo, o apóstolo passou a ensiná-lo as verdades do evangelho. Isto não ocorreu apenas com Timóteo, Epafrodito, Áquila e Pricila, Tito e muitos outros são exemplos. Paulo nos deixa o modelo da “PATERNIDADE ESPIRITUAL RESPONSÁVEL”. Ele se aproximou das pessoas novas convertidas pela pregação da Palavra, conviveu com elas, sofreu com elas, criou relacionamentos fortes enquanto as ensina a viver o evangelho. Note que aqui há um passo a mais, evangelizar e depois discipular. Como as nossas igrejas estão longe dessa prática!!!
2. Discipular implica em ensinar e mostrar o modelo
A partir do próprio Jesus verificamos que a palavra de quem discipula deve ser sempre acompanhada de duas coisas: Primeiro a inegociável fidelidade aos ensinos da bíblia (Leia I Tm 1.3-11 e I Tm 4.1-16); Segundo, o ensino implica na prática do que se ensina. Paulo, quase no final da sua vida escreveu a Timóteo dizendo: “Quanto a você, continue firme nas verdades que aprendeu e em que creu de todo coração. Você sabe quem foram os seus mestres na fé cristã.” (II Tm 3.14). Como cristãos discipuladores temos a responsabilidade de viver e anunciar as verdades do evangelho de Cristo (isto lhe soa familiar?). Assim como um filho pequeno aprende imitando os seus pais, um novo na fé deve também ter discipuladores, modelos referenciais, que podem estar em diferentes níveis de desenvolvimento na igreja (jovens, pais, mães, diáconos, pastores, servos, líderes, professores, estudantes etc.).
3. Discipular implica em duplicação
Depois do que já descobrimos, você pode ser tentado a concluir que ser discipulador não é para você. Concluir assim, seria o mesmo que dizer que uma criança ou adolescente não será pai ou mãe por causa do despreparo atual ou das exigências. É UMA SITUAÇÃO MUITO DOLORIDA E TRISTE QUANDO ENCONTRAMOS ADULTOS AGINDO COMO CRIANÇAS OU ADOLESCENTES. O mesmo se aplica à família cristã. Jesus ordenou que os cressem nEle (i.e novos na fé) fossem batizados e ensinados a obedecer tudo que Ele ordenou (Mt 28.20). Paulo escreveu ao seu filho na fé: “Tome os ensinamentos que você me ouviu dar na presença de muitas testemunhas e entregue-os aos cuidados de homens de confiança que sejam capazes de ensinar a outros.” (II Tm 2.2), isto é discipulado!! Cristãos que se tornam maduros na fé e ensinam os outros a chegar à maturidade.
Todo cristão deveria progredir na fé a ponto de vir a ser um discipulador, pelo menos de alguns. Quero terminar questionando porque não vemos isto amplamente difundido na nossa igreja. Bem, é preciso ser honesto e sincero para reconhecer que ser pai ou mãe na fé de alguém implica em investir na busca da sua maturidade cristã primeiro, para depois dedicar-se ao outro. Quantos estão dispostos a isto? Esta é a questão! Acredito que a pergunta pode ser melhorada dessa forma: Você está disposto(a) a pagar o preço para isto?
Qual o preço para se chegar à maturidade cristã?
25 Grandes multidões o acompanhavam, e ele, voltando-se, lhes disse:26 Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. 27 E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo
33 Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo. Lucas 14: 25-27 e 33
1. Não existem atalhos
Não existem atalhos para chegar a maturidade. Precisamos de vários anos para chegar à idade adulta, e é necessária toda uma estação para que uma fruta cresça e amadureça. O mesmo se dá com o fruto do Espírito. O crescimento espiritual, assim como o físico, requer tempo.
Lane Adams certa vez comparou o processo de crescimento espiritual com a estratégia usada pelos Americanos durante a Segunda Guerra Mundial na libertação das ilhas do Pacífico Sul (sob domínio Japonês). Primeiro “amaciavam” uma ilha, enfraquecendo a resistência com bombardeios nas fortificações a partir de navios ao longo da costa. A seguir, um pequeno grupo de fuzileiros invadia a ilha e estabelecia uma “cabeça-de-praia” minúscula parte da ilha que podiam controlar. Uma vez que a cabeça-de-praia estivesse segura, começavam o longo processo de libertação do resto da ilha, pouco a pouco. Com o tempo, toda a ilha ficava sob controle, mas sempre com algumas batalhas duras.
Adams traçou esta analogia: antes de Cristo invadir nossa vida na conversão, ele algumas vezes tem de nos “amaciar”, permitindo alguns problemas com os quais não podemos lidar. Embora algumas pessoas abram a vida para Cristo tão logo ele bata à porta, a maioria de nós resiste e fica na defensiva. A experiência que temos antes da conversão é Jesus dizendo: “Eis que estou a porta e bombardeio”! No instante em que você se abre para Cristo, Deus estabelece uma “cabeça-de-praia”
Discipulado é o processo no qual se toma a forma de Cristo. A Bíblia diz: Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, (Efésios 4:13). Tornar-se semelhante a Cristo é seu destino final, mas para isso precisamos passar pelo caminho do discipulado.
Todo aquele que deseja ser um verdadeiro discípulo de Jesus tem um caminho a fazer.
2. Um Caminho onde Temos que Desaprender
Certa vez Jesus disse: Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em odres novos. que não se podia colocar vinho novo em odre velho(Marcos 2:22.) Mas existia um outro problema nesta alusão que Jesus faz, pois o fato era que o vinho velho deixava dentro do oder uma “borra” que estragava a qualidade do vinho novo.
Assim também Deus não pode me tornar um discípulo autêntico se o odre da minha vida é velho e está cheio de “borra” antiga.
Quantas vezes cultivamos ainda os velhos hábitos? Achamos que dá para ser discípulo do nosso jeito: com os meus palavrões, a minha velha ganância, a minha velha crítica, o meu velho “pavio curto”. Alguns tem a capacidade de dizer: Eu sou assim mesmo!
No caminho do discipulado é necessário o trabalho duro de eliminação e substituição. A Bíblia chama isso despir-se do velho homem e revestir-se do novo homem. (Efésios 4:22-24). Ainda que você tenha recebido uma natureza inteiramente nova no momento da conversão, você ainda preserva velhos hábitos, padrões e práticas que precisam ser eliminados e substituídos.
3. Um Caminho Separado da Multidão
25 Grandes multidões o acompanhavam, e ele, voltando-se, lhes disse:....
O
O nome comum pelo qual os membros da igreja primitiva foram conhecidos era “discipulo”. O nome comum hoje em dia é “cristão”. Mas essa designação (cristão) era muito mais rara nas primeira décadas da igreja. Ela aparece três vezes no Novo Testamento e geralmente usada por pessoas não crentes para falar dos crentes. Se perguntássemos aos membros da igreja primitiva se eles eram cristãos, provávelmente ficariam confusos quanto ao significado do nome. Hoje se perguntássemos aos membros da igreja se são discípulos, também ficariam confusos. O nome discípulo ou discípulos aparece 289 vezes no novo testamento. Qual é a ênfase do Novo Testamento: Discípulo ou cristão? Qual é a ênfase hoje?
O mundo e a sociedade sempre tentam distorcer o propósito para o qual Deus nos chamou. Precisamos notar que a história já nos rotulou várias vezes: Cristãos, protestantes, crentes, evangélicos, etc. Até mesmo nossas próprias igrejas e denominações fazem isso, quando dizemos: Eu sou batista! ...Assembleiano, ...Presbiteriano, ...pentecostal, ... tradicional. Isso está errado!
Deus quer que sejamos conhecidos como discípulos e nada mais. É por isso que várias vezes ele diz: vós sois meus discípulos se.... amardes, fizerem o que eu mando.
Saia da multidão, aborreça este mundo: 26 Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo; Se negue a ser rotulado por este mundo, seja um discípulo!
4. Um Caminho de Renúncia
33 Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo.
Para que possamos ingressar neste caminho do discípulo não podemos vir cheios de coisas. O caminho do discípulado neste sentido é muito parecido com um casamento, pois um casamento não dará certo se simplesmente dissermos sim para o cônjuge, o casamento dará certo se também dissermos não a todos os outros.
Este caminho é marcado pela minha decisão de dizer sim! Eu quero ser um discípulo! Mas também de dizer não: aos próprios sonhos, vontades, ambições, planos e até a própria vida.
Veja que diz Marcos 6:8-9, que é o relato de Jesus enviando seus discípulos:
8 Ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, exceto um bordão; nem pão, nem alforje, nem dinheiro;
9 que fossem calçados de sandálias e não usassem duas túnicas.
Este texto é praticamente o resumo do tipo de entrega e renúncia que Deus espera que façamos.
Os discípulos deveriam levar somente:
Um Bordão e uma sandália: Somente o necessário para seguir no caminho.
Os discípulos não deveriam levar:
Pão: Deus supriria as suas necessidades
Alforge: Não precisavam ter lugar para pegar e guardar as moedas e esmolas, pois eles estavam semeando a palavra de Deus sem querer lucro.
Dinheiro: Aprender a confiar em Deus para as suas necessidades diárias.
Segunda Túnica: Era usada habitualmente para se cobrir de noite. Não era necesária porque Deus proveria um abrigo.
O convite de Jesus continua valendo para a nossa vida: Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo , tome a sua cruz e siga-me. Mateus 16:24
Entre por este caminho, seja um discípulo discipulador!
Adaptação de Textos originais de:
Rev. Sérgio Lyra e Estudos para Discipuladores
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