Mas o Senhor está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra; cale-se diante dele toda a terra. Habacuque 2:20
Nossa existência neste mundo está condicionada à vontade perfeita de Deus. A Ele tudo devemos, desde o aparentemente simples ato de respirar até as nossas grandes realizações, seja enquanto pessoas ou organizações.
Os crentes em Cristo alcançam privilégio ainda maior, pois abrigam em seu interior o templo do Espírito Santo. Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? - I Coríntios 3:16
E nesse viver, tendo o Espírito Santo conosco, muitas vezes não nos damos conta da importância que deve ter a reverência a Deus em nossa vida. No nosso ir e vir, esquecemo-nos por vezes da Presença Divina dentro de nós.
E se necessitamos reverência pelo fato de Deus andar conosco, sem dúvida nosso culto público, no templo, deverá exigir de nós um comportamento também reverente, típico de um salvo, motivo pelo qual nos deteremos particularmente nesse ponto nesta reflexão.
É bem verdade que vivemos debaixo da Graça. O Todo-Poderoso aceita que qualquer coração contrito a Ele se achegue pela fé, através da oração. E tão grande amor tem por esse coração, que, convidado a entrar, ali faz morada por toda a eternidade. Isso no entanto não pode nos fazer perder de vista que somos criados por Deus para Louvá-lo e Exaltá-lo, e a intimidade de filhos que com ele privamos não nos dá o direito de nos portarmos de qualquer maneira, sem reverência, seja no culto público ou na vida particular.
Ao longo dos tempos, fazendo uma analogia, podemos observar que a cada dia as instituições, de uma certa forma, têm sido desvalorizadas em seus atributos de respeitabilidade e solenidade, seja por falhas de seus dirigentes ou membros, seja por descaso da sociedade. As várias cerimônias também têm tido seu brilho empanado, conseqüência de novos comportamentos, mudanças, protestos, etc. Exemplo típico são as solenidades de formatura, que atualmente mais parecem gritos de carnaval, a ponto de as mais diversas reitorias manifestarem-se apreensivas a respeito.
Lamentavelmente, muito disso tem acontecido também nas igrejas, no momento do culto público. Sem contar o flagrante desrespeito que tal comportamento demonstra em relação àquele que oficia (pastor, dirigente, equipe de louvor, etc.), denota também que os crentes esquecem-se de onde estão, ou pior, pensam que o ambiente de culto pode ser similar a uma feira.
Jesus, o próprio exemplo maior do Amor de Deus, foi extremamente radical com aqueles que faziam do templo um ambiente de feira, chegando ao ponto de expulsar todos. Pode-se argumentar que os expulsos vendiam, e os crentes de hoje apenas conversam. Mas isso é secundário, na medida em que uns e outros estão alheios ao que Cristo disse: "minha casa será chamada Casa de Oração", envolvidos que estão com outros interesses.
Precisamos nos despertar para a realidade da presença de Deus. Talvez falte a alguns essa percepção, com isso roubando do próximo que também cultua, a genuína oportunidade de glorificar ao Senhor. Existe uma grande confusão, por vezes, e que talvez seja uma das causas da irreverência no culto. É a confusão entre sensação e percepção. Quando tocamos uma superfície quente, temos a SENSAÇÃO do calor. Mas de nada adianta se não tivermos a PERCEPÇÃO. Essa sim, baseada em juízo de valor, que aquilata o real peso da sensação, ordena ao corpo que se afaste.
Um bom exemplo disso é o louvor cantado. No culto, os cânticos, as apresentações musicais especiais, etc., consideradas de per si, são por vezes notadas apenas por seu senso estético, ou apuro técnico, não levando aquele que assim procede à real percepção, ao sentido espiritual.
Continuando a exemplificar com a música, item de importância vital no culto, Charles London disse que "a música é o melhor dom de Deus ao homem, a única arte do céu dada à terra, e a única arte da terra que levaremos ao céu". Mas é necessário aprofundar-se na mensagem musicada, ouvindo a voz de Deus em cada estrofe.
Nesse sentido, o adorador precisa se cuidar na valorização de todas as partes do culto. E muito mais que isso, não valorizar mais a música do que a mensagem que a mesma transmite. Caso contrário, o ribombar da bateria e os solos da guitarra serão tão ou mais importantes que a compreensão da mensagem cantada, sendo apenas uma sensação, perdendo-se nesse caminho o conteúdo que realmente importa. Agostinho, em 394 dC, disse que "quando acontece que sou movido mais com a voz do que com as palavras que canto, confesso que peco".
Essa comparação com a música, se estendida a todos os atos de culto, inclusive o prelúdio, nos permite avaliar claramente como anda nossa reverência.
O silêncio, a reflexão, a oração, ao entrarmos no templo nos isola do exterior, na medida exata de nossa aproximação do Senhor. Muitas vezes saímos reclamando que o culto foi vazio, pouco ou nada nos aproveitando. Não será por culpa nossa mesmo, na medida em que não contribuímos para um verdadeiro ambiente de reverência e adoração?
O "calar-se" diante do Senhor implica muito mais que manter a boca fechada ou "guardar o pé". É uma disposição de mente, um alienar-se a esse mundo, buscando lenitivo diretamente na Fonte. Há um cântico cuja letra exprime bem essa idéia: "..de si mesmo se esquecer e só pensar em Cristo Rei Jesus". Se não for assim, como explicar os lindos salmos de louvor e adoração de Davi, que demonstram completa reverência?
Sofonias 1:7 diz: "Cala-te diante do Senhor Deus, porque o dia do Senhor está perto; pois o Senhor tem preparado um sacrifício, e tem santificado os seus convidados". O culto deve se revestir de solenidade e circunstância, onde livremente, mas de forma profunda possamos adorar. O convidado santificado é aquele separado para cultuar, ciente de que não apenas manter-se calado, precisa estar em comunhão, pedindo a intervenção do Espírito Santo nos corações dos perdidos, pela Mensagem da Palavra.
Atividades estranhas ao culto, como comunicar-se com alguém (seja através de que meio for), devem ser deixadas de lado, para momento mais apropriado. O vício de a todo momento consultar o relógio, a conferir o horário, ou o celular, para uma hipotética chamada ou mensagem importante a ser recebida, mostra que não estamos “calados” diante do Senhor, que é digno de todo louvor. Por conseqüência, nossa adoração resultará imperfeita, e por tabela estaremos contribuindo para que outros adoradores, no mesmo ambiente, sejam influenciados e prejudicados. Isso sem falar no prejuízo causado à pregação da Palavra. O visitante não crente não será alcançado sequer pela compreensão intelectual da mensagem, que dirá pelo convencimento do Espírito Santo, item a exigir uma maior profundidade.
Segundo o dicionário Michaelis, reverência pode ser entendida em seis tópicos que são:
1 Ação de reverenciar.
2 Respeito às coisas sagradas.
3 Movimento do corpo para saudar especialmente aos santos, o qual consiste em inclinar a cabeça e o corpo ou dobrar um pouco um ou ambos os joelhos.
4 Tratamento dado aos sacerdotes.
5 Acatamento, respeito, veneração.
6 Atenção, consideração.
O ato de reverenciar implica na ciência de que o Ser reverenciado é o próprio Deus. Nenhuma autoridade deste mundo, por mais importante que seja, merece grau tão elevado de reverência e submissão.
No concernente às coisas sagradas, que prefiro dizer, separadas, ou santificadas, incluem-se o corpo, a própria vida, a mente, a construção física do templo. Todos esses itens devem merecer nosso cuidado. Não por trazerem em si algum poder, mas por serem utilizados na glorificação ao Senhor e Pregação da Palavra.
A saudação reverente (item 3), citada pelo dicionário, nos remete a uma atitude de contrição, de coração ajoelhado na presença divina. Significa considerar que o Todo-Poderoso é infinitamente superior àquele que o adora.
O tratamento dado aos sacerdotes. Interessante esse ponto. Principalmente se considerarmos que atualmente o adorador não necessita de intermediários para chegar até o Criador. Mas necessita ter o coração lavado no sangue de Cristo, o Cordeiro Pascal. E de conseqüência, ter uma vida limpa. Mas significa também, sem dúvida, que devemos respeito e acatamento a todos os operadores do culto, desde aquele que prepara a limpeza e a decoração do templo, passando pelo dirigente, pela equipe de música, técnico de som, etc., até o pastor, que traz a mensagem.
Os itens 5 e 6 complementam nossa compreensão, a partir de sinônimos mais simples que dizem muito com nosso dia-a-dia.
A vida é um culto constante, e a celebração no templo deve refletir essa realidade. Se não há culto na vida, difícil será celebrar em público.
Que Deus nos abençoe.
Osdilson Amorim Oliveira
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