terça-feira, 15 de julho de 2008

O cuidado de Deus

Até a vossa velhice eu sou o mesmo, e ainda até as cãs eu vos carregarei; eu vos criei, e vos levarei; sim, eu vos carregarei e vos livrarei.
Isaías 46:4

Um dos maiores males que em todos os tempos acomete a humanidade é a ignorância. Por ignorância pode-se entender a falta de conhecimento, o desperdício de informação. Tal carência leva aos mais absurdos disparates, dos quais são costumeiros protagonistas, desde o indivíduo morador do rincão distante, passando pelo habitante de nossas modernas metrópoles, até os governos dos países mais poderosos do mundo. Em nome das mais diversas causas, se mata e se morre aos milhares por minuto. E assim foi desde sempre.

E entre as muitas facetas da ignorância, causa espanto observar o quanto o ser humano é ignorante a respeito de Deus, e do cuidado que Ele tem para com os chamados "reis da Criação" - os homens e mulheres. Pode-se afirmar, inclusive biblicamente, que a ignorância que o homem demonstra de Deus é a razão de todos os outros comportamentos ignorantes.

Desde que se descobriu nu, no Jardim do Éden, ou melhor dizendo, desde que se descobriu pecador, o ser humano passou a criar por si só, sem consultar a Deus, alternativas para compensar a enorme solidão que seu ato lhe trouxe. Ele não sabia, como todos aqueles que ainda vivem nas trevas também ainda não sabem, que o Criador preparava a única saída possível: o sacrifício de seu próprio Filho, para pagar pelos pecados de todos nós.

E nessa busca desenfreada o homem tem feito de tudo, chegando a torpezas, e mesmo às raias da loucura. A história é pródiga em demonstrar isso em suas páginas sujas de sangue, muito dele inocente. Em Isaías 44, de 9 a 20, o profeta qualifica a idolatria como um sintoma claro da loucura. Um ferreiro que faz um machado; depois trabalha nas brasas e forja um ídolo. Um carpinteiro corta um cedro, que a chuva fez crescer, e com sua arte cria uma imagem, a representação de uma figura humana. Com o restante da madeira faz um fogo para cozinhar para comer e para se aquecer; ambos olham para a obra de suas mãos e dizem: “livra-me, porque tu és o meu deus”.

Parece fácil, em nossos tempos modernos,visualizar a loucura dos idólatras no texto bíblico acima. Mas por falar em modernidade, é bom salientar que nada mudou. A ignorância persiste, e há inclusive aqueles que vivem dela. As pessoas vão em busca daquele que tem "contato direto" com o alto, como se Deus precisasse de algum intérprete para nos ouvir. Há pessoas que fazem "orações poderosas" pelos suplicantes até pelo telefone celular. Outros lotam templos, ou garantem a audiência de determinados canais de TV ou emissoras de rádio, em busca de cura ou riqueza.

A Bíblia diz que o homem tem se cansado de Deus (Isaías 43:22), e na sua ignorância perdeu a referência da Misericórdia Divina. Se ensoberbece, e contende com o Criador. Esquece-se de que é um caco de barro entre outros cacos (Isaías 45:9).

O texto base desta reflexão nos traz, no entanto, alguns pontos seguros de orientação, um norte para a ignorância da humanidade:

1 - "Até a vossa velhice eu sou o mesmo"
Os seres humanos envelhecem, e nessa caminhada experimentam muitas coisas. A raça humana, a coletividade, também já conta milhares de anos.

A Bíblia, em Eclesiastes 12:1-7, traça um painel poético da velhice, convocando o homem a que busque Deus enquanto é moço, enquanto tudo está bem, enquanto tem forças pra escolher o caminho a seguir, antes que venham os maus dias, que não trazem prazer a ninguém.

E a verdade suprema e bela em tudo isso não são as invenções, as conquistas tecnológicas, as vacinas que erradicaram muitas doenças, a ida do homem à Lua, etc.

Por mais importantes que sejam estes acontecimentos o que mais vale, o que é mais belo, é a constatação de que o nosso Deus é e sempre será o mesmo!

Nós vivemos mudando, em todos os sentidos. Nem sempre conseguimos cumprir aquilo que falamos. Até nosso humor se altera, ao sabor de qualquer coisa. Como somos imperfeitos, ousamos chamar essas mudanças, tão imprevisíveis como o vento, de evolução. Mas nosso Pai é perfeito.

De contraste com nossa finitude está a existência eterna de Deus, daquele que tudo sabe desde os promórdios, sua imutabilidade, um ser do qual a Bíblia diz que não existe nem sombra de variação!

O nosso seguro de vida (eterna inclusive) é Deus. O nosso plano de saúde (espiritual inclusive) é o Senhor. As misericórdias dele, diz o profeta, são a causa de não sermos consumidos.

É de suma importância que os governos e a sociedade em geral se preocupem com o bem-estar dos cidadãos, mormente daqueles que dedicaram toda sua vida ao trabalho e agora, na velhice, necessitam de todo o amparo que possam ter. Mas acima de tudo a segurança do homem deve estar naquele que mesmo quando suas pernas não mais os sustentarem, Ele continua o mesmo: forte, poderoso, eterno, pronto a suster.

Este é um conhecimento que nós temos, que precisamos fazer uso dele, e repassarmos a todos que conhecemos.

2 - “e ainda até as cãs eu vos carregarei”
Essa afirmação parece uma redundância da anterior, mas não é. Além de completar a frase, subentende-se que o Senhor nos carrega desde jovens, em todos os nossos momentos e fases, e não nos desamparará quando nossos cabelos ficarem brancos.

Hoje em dia a mídia, em seus raros momentos de lucidez, e ainda que buscando atingir um mercado em franco crescimento (o das pessoas idosas), tenta abrir os olhos das pessoas para a necessidade de cuidar daqueles que perderam a cor de seus cabelos lutando e trabalhando nesta vida. Mas na realidade o que acontece muitas vezes é o desprezo, a internação em abrigos, ou o banco da praça como destino final.

Podemos estender esta realidade também a todos aqueles de alguma forma fragilizados, explorados, sem força para reagir se quedam presos e indefesos.

Nosso Deus nos carrega. Ele nos sustenta. Os momentos de fraqueza, de dúvida, a aproximação da velhice, tudo isso não deve nos assustar.

Mas para isso precisamos deter a nossa auto-suficiência, nossa eventual arrogância, e sermos humildes. É necessário se reconhecer a necessidade de ser carregado, humilhar-se perante o Senhor, e aprender o quanto é bom descansar em Seus braços.


3 -”eu vos criei, e vos levarei”
Quando fala da loucura dos que adoram coisas ou pessoas que não sejam o único Deus, Isaías é muito sábio ao dizer que os homens criam imagens, esculturas, etc., de sua própria arte, e depois as adoram. Nós sabemos que muitas pessoas adoram a outras que viveram em épocas antigas e fizeram o bem. Todos adorando a algo que em sua imaginação louca representa uma divindade, que lhes pode ajudar.

E Isaías vai mais longe, quando diz que esses deuses, feitos pelos próprios adoradores (e hoje o homem os faz através de processos e cerimônias de beatificação), necessitam ser carregados pelos próprios adoradores, onde quer que estes vão e necessitem de suas bênçãos.

Como isso é contemporâneo! Vemos tantos deuses presos em fitas, correntes ao pescoço, imagens afixadas em carros, casas, dentro de carteiras e bolsas! Deuses representados pelo extrato bancário, pelo bisturi do artista plástico em que se transformou o médico, etc. O homem continua ignorante. Despreza o Deus verdadeiro, que pode carregá-lo, e se esfalfa em intermináveis procissões carregando o seu deus, que ele mesmo criou.

Diversamente, o Deus verdadeiro é aquele que nos criou, que nos conhece como obra sua, à Sua imagem e semelhança. E que não carece de nossos braços para se mover, porque está em todos os lugares ao mesmo tempo. E é esse ser maravilhoso que promete nos levar sempre.

E os lugares para onde Ele nos leva são aqueles que a sua Vontade perfeita deseja.

Como diz o Salmo 139, o conhecimento que Deus nos dá é algo sobremodo elevado, que por nós mesmos não poderíamos jamais atingir.


4 - “ sim, eu vos carregarei e vos livrarei”
Imagine uma criança que foi passar a tarde num grande parque. Folgou em todos os brinquedos, mas, ao final do dia, já se pondo o sol, cansada, descobre desesperada que se perdeu dos pais. Não tem o mínimo conhecimento de como encontrá-los, e não sabe o caminho de casa.

O administrador do local tenta consolá-la, a par de tomar as providências para localizar seus pais. Mas não consegue fazer cessar seu choro, e então mais uma vez reitera: “sim, acalme-se! Nós vamos localizar seus pais!”

É isso que o Senhor quer nos dizer. Ao repetir sua promessa, Ele dirime as eventuais dúvidas remanescentes em nosso ser. Somos confortados na certeza de que as nossas dificuldades e fraquezas serão supridas por Ele, e completa com um dado novo: seremos libertos.

Um dos textos mais profundos que a Bíblia apresenta ao confrontar a liberdade com o conhecimento diz: “e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). Só o Deus verdadeiro pode acabar com a ignorância humana ao apresentar a verdade única que liberta aquele que crê.

E não se trata de uma liberdade ilusória, aquela que apenas troca os algozes. Não, o livramento é tão profundo que aquele que “está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas se passaram, e eis que tudo se fez novo” (II Cor. 5:17)!

As constituições dos mais diversos países da atualidade pugnam por defender a liberdade. Mas além da mera letra, da prescrição legal, pouco se faz para proporcionar liberdade a todos. Uns são escravos da pobreza, outros da riqueza, e para todos a liberdade plena não passa de um sonho. Alguns se rebelam e passam à libertinagem, à anarquia.

Mas o nosso Deus é grande e poderoso, conhecedor íntimo de todas as coisas em todos os tempos, podendo proporcionar libertação aos cativos do pecado, e esse é um conhecimento maravilhoso que nós temos e devemos repassar a todos.


Através destas poucas linhas procurei demonstrar o quanto temos a ganhar confiando plenamente no cuidado de Deus. Comparadas às providências que tomamos aqui na Terra para nos cuidar, as providências divinas são infinitamente superiores, pois nascem de um ser que é a própria definição do Amor, e tão sábio que conhece todos os nossos dias, mesmo antes de vivermos cada um deles.

Também é necessário observar a diligência de Deus, a persistência dele em cuidar de nós, o fato de nunca nos abandonar à própria sorte. Isso nos deve tornar mais responsáveis na adoração a Ele, na entrega de todo o nosso ser, incondicionalmente, e refletir no nosso amor ao próximo.

Cada um de nós deve ser mais firme e sereno em seus propósitos, propósitos dentro da vontade divina, persistentes nas dificuldades, constantes no amor fraternal, inspirando confiança e dando bom testemunho por onde quer que formos.

A reclamação não deve fazer parte de nossa conversa, pois, como pode reclamar o filho do rei, que tudo tem à sua disposição? Evidentes as lutas, as perseguições, afinal, ser um príncipe, irmão de Cristo, traz uma inveja maligna, já que o inimigo de nossas almas procurará a todo custo nos destruir. Mas não podemos perder de vista que até quando ficarmos velhos, alquebrados e sem forças, Ele nos carregará, porque foi Ele que nos criou; nos levará a águas tranquilas e nos fará repousar, e nos trará livramento eterno.

Que Deus possa falar a seu coração e aumentar seu sossego e paz, e que você aproveite a oportunidade de difundir no seu meio esse conhecimento maravilhoso, oxalá diminuindo a ignorância deste mundo.

Osdilson Amorim Oliveira

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