sexta-feira, 29 de maio de 2009

A Justiça e o homem da esquina

Por Mauro Santayana

 

Ao anunciar, ontem, a escolha da juíza de origem porto-riquenha Sonia Sottomayor, para a Suprema Corte, o presidente Obama citou o célebre juiz Oliver Wendell Holmes, com a frase marcante: "The life of the law has not been logic, it has been experience". O postulado de Holmes é anterior à sua nomeação para a Suprema Corte, que se deu em 1902. Encontra-se no trecho axial de seu livro, The common law, publicado em 1881, quando ele tinha apenas 40 anos, mas já era professor de direito. Holmes completa seu pensamento, dizendo que a lei incorpora a história do desenvolvimento de uma nação durante vários séculos, e ela não pode ser tratada como se contivesse somente os axiomas ou as conclusões de um livro de matemática. Com esse entendimento, é natural que Holmes, durante os 30 anos em que atuou na Suprema Corte, tenha sido conhecido como O Grande Dissidente, em um tribunal de maioria formalista e conservadora.

 

A indicação da juíza Sottomayor começou a provocar, tão logo anunciada, uma discussão democrática nos Estados Unidos. Porta-vozes conservadores a contestam, alegando que ela é uma "ativista". Ativistas, no entanto, costumam ser os juízes da Suprema Corte. Exemplo desse ativismo foi a decisão, pela maioria de um voto em favor de Bush contra Gore, na fraudulenta votação na Flórida. Esse voto, contra a História, levou ao desastre econômico e político da grande nação, com a violação dos direitos do homem.

 

Sem referir-se diretamente à carreira singular da juíza – órfã de pai aos 9 anos, que viveu em uma habitação popular do Bronx, criada pela mãe viúva com grande dificuldade – Obama disse ser importante que um juiz conheça como é o mundo e como o povo comum vive. Enfim, com outras palavras, é importante que o juiz ouça o clamor das ruas e entenda o sofrimento do "sujeito da esquina". O problema essencial da Justiça é o de sua definição. Há casos em que a lei não serve à Justiça. É conhecida a preocupação do grande teórico da Revolução Francesa, o abade Sieyés, em seu Ensaios sobre os privilégios, quando ele diz que a lei – a lei de então, contra a qual se levantavam os sans-culotte – em lugar de promover a Justiça, condenando os privilégios, era deles cúmplice. A lei era, portanto, injusta, como injustas continuam a ser inúmeras leis.

 

Desse debate participa Joaquim Falcão, com artigo publicado domingo pela Folha de S.Paulo (Empatias e consequencialismos), sobre o que se passa em nosso STF. Falcão citou Obama que, dias antes de escolher a substituta do juiz Souter, e coerente com o juiz Holmes, ponderou que "a decisão judicial não é apenas uma questão de teorias jurídicas abstratas e de notas de rodapé em manuais de direito. Ela tem a ver com as consequências práticas para o cotidiano do povo".

 

Ainda agora estamos diante de uma situação que faz excitar a discussão. O juiz Ali Mazloum denunciou o delegado Protógenes Queiroz à Justiça, pela sua conduta nas investigações da Operação Santiagraha. Excluindo-se o fato de que o mesmo juiz foi objeto de investigações da famosa Operação Anaconda – que levou à cadeia o juiz Rocha Mattos – estamos diante de uma situação em que a sentença (ainda que de primeira instância) está em notório desacordo com a opinião das ruas. O juiz se estribou, conforme o noticiário, em regras e normas da Polícia Federal.

 

O delegado Protógenes talvez tenha cometido faltas disciplinares, puníveis conforme as regras de sua corporação. Essa é uma questão interna da Polícia Federal. Mas é difícil entender por que a Agência Brasileira de Inteligência não pode colaborar com outros órgãos, como é o caso da Polícia Federal, em investigações de interesse nacional. É de evidente interesse nacional a investigação das operações do banqueiro Daniel Dantas, em que há suspeitas de evasão de divisas, de interceptação ilegal de conversas telefônicas e de suborno de autoridades.

 

Os cidadãos têm acompanhado com atenção o desenrolar desse processo, com a desconfiança de que tudo o que se faz, faz-se em favor dos poderosos. O sentimento nacional, que pode ser aferido nas manifestações livres da grande praça pública que é a internet, é o de que o Poder Judiciário decide em favor dos opressores, enquanto desdenha os oprimidos. Nunca a percepção de que temos uma Justiça de classe foi tão nítida quanto hoje.

 

 

Fonte: http://www.jblog.com.br:80/politica.php?itemid=13063 – acesso em 29/05/2009

terça-feira, 26 de maio de 2009

A FOFOCA NO AMBIENTE DE TRABALHO

A FOFOCA NO AMBIENTE DE TRABALHO.

 

"Ninguém fofoca sobre as virtudes dos outros". A frase do escritor irlandês Bernard Shaw mostra o real objetivo do fofoqueiro: a maldade. Quem está saindo com quem, quem vai ganhar uma promoção e quem levou uma bronca do chefe são temas constantes na boca do leva-e-traz. Geralmente, o tititi vem acompanhado da frase "não conte a ninguém", que nada mais é do que a senha para passar a informação adiante, e com mais riqueza de detalhe. Tudo bem, é da natureza do ser humano falar dos outros, mas não quer dizer que devemos sair por aí fazendo comentários sobre alguém ausente. Isso, no trabalho, pode causar um prejuízo enorme para a vítima.

 

Falta de etiqueta

Não pense que "apenas" ouvindo ou repassando a informação você não seja responsável pela fofoca. "É falta de etiqueta transmiti-la ou incentivar o interlocutor a contar todos os detalhes", diz Célia Leão, consultora de etiqueta. Ela tem uma tática para escapar dessas armadilhas: não perguntar nada e não repetir o que lhe disseram. Depois de um tempo deixarão de incomodá-lo, porque todo mundo vai saber que com você não funciona. Coach (treinadora) Eliana Dutra aconselha seus clientes a seguirem outra estratégia. "Minha fórmula é ser monossilábica. Se a colega insistir, diga que esta inaugurando uma fase em sua vida: “‘não falo nem ouço falar de pessoas ausentes”. Vamos falar de nós? '. Isso corta o barato de qualquer um", explica. Aliás, contar sobre sua vida pessoal para colegas de trabalho é um verdadeiro perigo. Os espertinhos oferecem um ombro amigo e acaba-se falando o que não devia. Para usarem essa informação contra você é um pulo.

O fato é que a fofoca é destrutiva, contamina o ambiente de trabalho e pode fazer um estrago grande na sua imagem. Isso acontece quando simples rumores, baseados em suposições e achismos, ganham status de verdade. Imagine se começam a espalhar pelos corredores que você está procurando emprego ou foi assediado pela concorrência? É nessas horas que todos os sentimentos vêem à tona: insegurança, ansiedade, rancores e queda de produtividade, que podem até mesmo acabar em demissão. Não há um antídoto contra a fofoca, mas dá para aprender a lidar melhor com a situação.

Se você conhece o fofoqueiro, a vontade é mesmo de pular no pescoço do cretino. Porém, os especialistas garantem que essa não é a melhor alternativa. Quando o zunzunzun é inofensivo ou pessoal, o ideal é ignorar, já que não é necessário provar nada a ninguém. Para ficar na sua, é preciso que você esteja em pleno exercício da auto-estima e autoconfiança. Mas, quando os boatos colocam em risco o seu cargo, é hora de entrar em ação. "A melhor maneira para acabar com isso é expor a situação. Converse com o mexeriqueiro, seja firme, e não grosseiro, diga que acha a atitude de mau gosto. A conversa franca o desarma", acredita Maria Ignez Prado Lopes Bastos, diretora da MTB Assessoria Organizacional. A publicitária Adriana Mendes, 30 anos, não teve essa coragem e se deu mal. Há dois anos, ela trabalhava numa produtora, sua assistente era irmã da chefe e entre as duas acabou acontecendo uma disputa de poder. Aí a fofoca dominou o ambiente, Adriana não agüentou o clima e pediu demissão.

 

Abalada pelo boato

Outra que se deixou abalar pelo boato foi administradora Tatiana Parada, 34 anos. O fofoqueiro do setor espalhou que haveria cortes na empresa. Mais tarde, comentou que ouvir falar que o nome de Adriana estava na lista. Foi então que ela resolveu aceitar uma proposta da empresa concorrente com o mesmo salário, entretanto sem as mesmas perspectivas de ascensão, com receio de carregar uma missão no currículo. "Nunca vou saber se realmente seria cortada, mas logo em seguida me arrependi de ter saído por dar ouvidos a um boato", desabafa. "Tudo o que não é bem comunicado acaba sentindo veiculado na 'rádio-peão' de maneira inadequada", diz Davi de Aquino, consultor de recursos humanos.

 

Comunicação equivocada

Em parte, a culpa é de algumas empresas. Quando a fofoca cai nos ouvidos do chefe, por exemplo, é sinal de que a comunicação da companhia não vai nada bem. Se o superior for fofoqueiro, sua sorte está nas mãos dele e não há muito que fazer. Caso ele condene boatarias, não se preocupe, o assunto deve terminar na sala dele mesmo. Segundo uma pesquisa da agência britânica de recrutamento Officeangels, a maior parte dos chefes diz que jamais vai confiar em um empregado que é comprovadamente um fofoqueiro e que indiscrição pode afetar as perspectivas de promoção ou provocar até mesmo uma demissão. Cerca de uma em cada dez empresas inglesas distribuíram memorandos alertando os empregados a respeito de boatos e 4% despediram um integrante de sua equipe por causa da fofoca.

O ideal é que cada empresa tenha a própria fórmula para diminuir os rumores. A melhor é não deixar que a informação fique exclusivamente em poder de presidentes, gerentes, supervisores e diretores. Outras boas ferramentas são murais, jornais internos, intranet, memorandos e videoconferências. Dessa forma, não há espaço para fofocar.

 

Para não cair na boca do leva-e-traz

Fique longe dos grupinhos dos fofoqueiros, ou você vai levar a fama por tabela.

Fale em voz baixa, especialmente quando tratar de assuntos confidenciais.

Não espalhe seus resultados positivos, prêmios e novos projetos que lhe foram confiados.

Caso tenha amigos no ambiente de trabalho, seja discreto. Não comente na frente dos outros colegas os programas que vocês fizeram, pois desperta ciúme e gera comentários.

Se trabalhar com alguém de quem não gosta, troque cumprimentos e não mostre antipatia.

A atitude minimiza os atritos e evita que os outros reparem e fofoquem.

Cultive um bom relacionamento com seus colegas de trabalho. No falatório, você terá aliados - ou então será alertado sobre o boato.

 

 

Fonte: http://neryhumberto.vilabol.uol.com.br/dicas.profissionais/A_FOFOCA_NO_TRABALHO.htm